Premiada autora colombiana aborda, pelos olhos de uma criança, a solidão feminina e as imposições sociais na vida das mulheres
O
apartamento duplex onde Claudia mora com os pais em Cáli é tomado por
plantas que escorrem pelas paredes, se embrenham pelos cômodos e se
enroscam nos móveis. Neste cenário denso, que remete a uma selva urbana,
também estão entranhadas as frustrações afetivas de uma família cujas
relações são permeadas por abismos intransponíveis. Entediada e
deprimida, a mãe está em conflito com os caminhos impostos para a
própria vida. O pai omisso se refugia no silêncio ou se expressa
vagamente, em frases evasivas. Entre esses dois polos pairam as
expectativas da filha de oito anos, ansiosa em estabelecer esses
vínculos quase inatingíveis. E é ela quem narra a história, pelo seu
olhar de criança terno e sincero.
Vencedor do prêmio Alfaguara 2021 na categoria Romance, Os abismos, que chega às livrarias brasileiras pela Intrínseca e foi lançado primeiro no clube intrínsecos, retoma o tema da maternidade já explorado magistralmente em A cachorra,
livro anterior de grande repercussão de Pilar Quintana. Agora, porém,
sob outro ponto de vista. Se no livro anterior acompanhamos uma mulher
cujo grande desejo da vida é ser mãe, mas que não consegue realizá-lo,
em Os abismos temos justamente o contrário: uma mulher que
encontra grande dificuldade com a maternidade. Enquanto a mãe passa os
dias deitada na cama, obcecada por celebridades femininas que morreram
de forma trágica – Natalie Wood e Grace Kelly entre elas –, Claudia
tenta em vão se aproximar dela e observa com preocupação crescente o
desenrolar dos dias à medida que a mulher se afunda em sua solidão.
Em meio à beleza e à violência da natureza, confrontando desejos
inconfessos, criança e mãe se encontram e, assim, o destino da mais
velha parece se debruçar sobre o abismo contra o qual tantas outras
mulheres também já se depararam. Um livro sensível e chocante, que
consolida o importante lugar de Pilar Quintana na literatura
latino-americana.
“É
interessante como a escrita da autora capta o mundo interno dos
protagonistas: as plantas, as falésias, a névoa densa falam de suas
emoções contidas.”
La Nación
“Este livro e a Cáli que só existe na memória de quem viveu aquela época
são, sem dúvida, o melhor livro e lugar para desaparecer por muitas
horas.”
El País
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